A nova revisão da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entrará em vigor no Brasil em 26 de maio de 2025, introduz de forma inédita a obrigatoriedade de considerar os riscos psicossociais como parte da gestão de riscos ocupacionais. Esta mudança representa um marco significativo para a saúde e segurança do trabalho, e ao mesmo tempo, uma oportunidade estratégica para empresas que desejam transformar o ambiente laboral em um espaço mais saudável, produtivo e sustentável.
No cenário atual das relações de trabalho no Brasil, ainda é comum observar uma cultura reativa em relação à saúde e segurança ocupacional. Muitas organizações só atuam de maneira corretiva, ou seja, após a ocorrência de incidentes, acidentes ou adoecimentos relacionados ao trabalho. Contudo, todas as Normas Regulamentadoras (NRs), incluindo a NR-1, têm um caráter eminentemente preventivo.
Com a inclusão dos riscos psicossociais, a nova NR-1 reforça a importância de identificar, avaliar e controlar não apenas os riscos físicos, químicos, biológicos e de acidentes, mas também os fatores que afetam a saúde mental e emocional dos trabalhadores.
Riscos psicossociais são condições do ambiente de trabalho que afetam o bem-estar psicológico, emocional e social do trabalhador. Eles incluem:
Jornadas de trabalho excessivas ou irregulares
Assédio moral ou sexual
Conflitos interpessoais
Falta de reconhecimento ou apoio
Excesso de pressão por metas
Violência física ou verbal
Falta de controle sobre as tarefas ou ausência de autonomia
Esses fatores podem levar ao desenvolvimento de problemas como estresse crônico, burnout, ansiedade, depressão e até transtornos psicossomáticos, afetando diretamente a saúde do trabalhador e a produtividade da organização.
A revisão da NR-1 traz um avanço significativo ao integrar os riscos psicossociais ao Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), que é a base do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Com isso, as empresas passam a ter a obrigatoriedade de:
Identificar fatores psicossociais que possam causar danos à saúde dos trabalhadores
Avaliar a magnitude e gravidade desses riscos
Adotar medidas de controle compatíveis com a natureza e complexidade das atividades laborais
O foco está na prevenção, antecipando situações que possam gerar sofrimento psíquico, antes que se transformem em doenças ocupacionais.
A obrigatoriedade de considerar os riscos psicossociais deve ser vista pelas empresas como uma oportunidade estratégica, e não como um fardo legal. Ao investir em ambientes de trabalho psicologicamente seguros e saudáveis, as organizações podem colher benefícios significativos, tais como:
Redução do absenteísmo e do presenteísmo
Aumento da produtividade e engajamento dos colaboradores
Melhoria do clima organizacional e das relações interpessoais
Diminuição dos passivos trabalhistas e ações judiciais por assédio ou danos morais
Fortalecimento da imagem institucional como empresa socialmente responsável
Além disso, ao criar um ambiente mais humano, ético e respeitoso, a organização contribui diretamente para a sustentabilidade do negócio e a valorização do capital humano.
A aplicação da nova NR-1 exige uma abordagem integrada e multidisciplinar. Algumas estratégias eficazes incluem:
Mapeamento e análise dos fatores psicossociais no ambiente de trabalho, por meio de entrevistas, questionários e observações diretas
Capacitação de lideranças para a gestão saudável de pessoas e prevenção de assédio
Promoção de programas de saúde mental, com apoio psicológico, rodas de conversa e campanhas educativas
Revisão de cargas horárias e metas, para garantir equilíbrio entre produtividade e bem-estar
Criação de canais seguros de escuta e denúncia, com garantia de confidencialidade e acolhimento
Políticas claras de respeito à diversidade e combate a qualquer forma de discriminação
Essas ações contribuem diretamente para atender às exigências legais e, ao mesmo tempo, criar uma cultura organizacional mais empática, colaborativa e ética.
A entrada em vigor da nova NR-1 marca uma nova fase para a saúde e segurança no trabalho no Brasil. A inclusão dos riscos psicossociais amplia a visão sobre o que é um ambiente de trabalho seguro e saudável, contemplando também aspectos subjetivos e emocionais que, por muito tempo, foram ignorados ou minimizados.
Mais do que uma exigência legal, trata-se de uma chance real de mudança cultural, de tornar o trabalho uma experiência digna, saudável e sustentável. Empresas que enxergarem essa oportunidade sairão à frente, promovendo ambientes mais humanos, com trabalhadores mais saudáveis, produtivos e felizes.
Fernando Sato, engenheiro de produção com especializações em gestão empresarial, engenharia de segurança do trabalho, higiene ocupacional e gestão ambiental. Auditor líder nas normas ISO 9001, ISO 14001, ISO 45001, ISO 22000 e auditor interno SASSMAQ. Mais de 15 anos de experiência, tendo feito trabalhos de consultoria e auditorias em grandes empresas como Unilever, Avon, Eli Lilly, SMP, Metagal, ABL Antibióticos, Waters Brasil, entre outras.